terça-feira, 25 de março de 2008

Ideologia - eu quero uma para viver

Fidel Castro não está morto fisiologicamente, mas as idéias, ideologias e teorias que o alimentaram e foi o discurso de uma geração, morreram em novembro de 1989 quando Berlim deixou de ser duas. Os anos 60 e 70 morreram no final da década de 80.

Comunismo, anarquismo, movimento punk, hippie e tantos outros foram ideologias de vida, algo para se lutar, para se morrer dos jovens universitários dos anos 60 e 70. O espírito revolucionário é natural em qualquer adolescente. Nesta época é permitida a eles a ilusão de que podem mudar o mundo.

O engajamento político dos jovens daquele tempo era infinitamente maior do que os universitários de hoje. Ai de quem não soubesse quem ou o que eram Marx, Mao, Sartre, Cortina de Ferro, Ho Chi Minh, Praça Celestial, etc. Era cool discutir filosofia, política, tratados e mais tratados, participar de debates, grupos de discussão (ilegais ou não), ser membro de partido político (PC do B de preferência). Tudo isso acompanhado do cigarrinho de maconha como um símbolo de rebeldia contra o sistema.

Há uma frase que explica bem essa época: “não ser comunista antes dos 25 anos é ser insensível, alheio aos problemas do mundo. Ser comunista depois dos 25 anos é burrice”. Ou seja, até os 25 anos, pode sonhar que os escritos em O Capital vão mudar a humanidade. Após isso, ou você acorda para a vida real, o mundo capitalista ou está fora.

Apesar do sonho daqueles jovens ter acabado com o fim da URSS, aquela geração, quando não estava em sala de aula, estava discutindo, debatendo o futuro político do país e do mundo. A ditadura militar no Brasil foi péssimo para a história, mas também foi uma boa desculpa que os estudantes tinham de fazer barulho, de culpar alguém pela vida estar ruim.

E hoje? O que passa na cabeça dos seres pensantes das universidades públicas ou particulares do Brasil? Nada. Não estou dizendo que os jovens hoje são burros ou ignorantes, de jeito nenhum. Apenas observe os diálogos entre grupos de universitários durante os intervalos de aulas. Com certeza não estarão discutindo sobre a CPI dos Cartões Corporativos, a recente crise que ocorreu na América do Sul entre Equador e Colômbia, a disputa entre Hillary e Obama pela preferência dos democratas ou a conduta de deputado X ou Y na Câmara.

Provavelmente os assuntos abordados serão sobre a próxima micareta, a data do show de Ivete Sangalo ou Asa de Águia se aproximando, a rave a seguir, o próximo pagode, academia, carros tunados e afins. Coisa boa ou ruim? Difícil avaliar, mas há de se dizer que a juventude hoje não se interessa mais por questões políticas, engajamentos sociais como no passado. Claro que, nada se pode generalizar, mas o que acontece é que não só os jovens universitários, mas a população em geral está decepcionada com tudo, com a vida.

De que adianta brigar, espernear pelo que acontece em Brasília se tudo acaba no mesmo: em nada. Alguém foi preso por causa do mensalão ou da CPI dos Correios? O que aconteceu com Renan Calheiros? Alguém tem esperança que haverá punição para aqueles que usaram indevidamente o cartão corporativo? Protestar contra o Bush fará com que o aquecimento global seja contido?

As pessoas estão cansadas, enfadadas, um tanto fez, tanto faz, principalmente os jovens. O mundo acelerou. Transformou todos em máquinas. Ninguém tem mais tempo de discutir nada. É ir para a faculdade, ir para o estágio ou trabalho e descarregar as energias no final de semana. E só. PSDB ou PT no poder? Alguém sabe a diferença? Ideologia – eu quero uma para viver.

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